quarta-feira, outubro 13, 2004

o ultimo soneto


Lá, quando em mim perder a humanidade
Mais um daqueles que não fazem falta,
Verbi-gratia o teólogo, o peralta,
Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade;

Não quero funeral comunidade,
Que engrole sub-venites em voz alta;
Pingados gatarrões, gente de malta,
Eu também vos dispenso a caridade;

Mas quando ferrugenta enxada idosa
Sepulcro me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me este epitáfio mão piedosa:

“Aqui dorme Bocage, o putanheiro;
Passou vida folgada e milagrosa;
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro"